Eu mato orquídeas, mate você também
Aprendi a cozinhar com 7 anos e, aos 12, já era capaz de fazer um jantar simples para quatro pessoas. Arroz, que pra todo mundo é sinônimo de encrenca, nunca me tirou do sério, mas, mesmo assim, queimei muita panela tentando fazer um prosaico pudim. Já salguei demais, já salguei de menos, uma vez até “adocei” café com sal e só percebi ao beber. Hoje, me aventuro por algumas receitas mais elaboradas, mas nunca me atrevi a preparar uma feijoada ou uma refeição para mais de seis pessoas.
Tenho muito menos tempo de experiência no cultivo de plantas e menos ainda com orquídeas. Comecei a cuidar dos meus feijõezinhos ainda criança, mas sem a responsabilidade de regá-los ou protegê-los de pragas. E, claro, feijão é planta anual, que tem um ciclo de vida curtinho.
Agora pensa comigo: comquipode você desistir de orquídeas só porque matou uma chuva-de-ouro afogada ou porque sua Phalaenopsis nunca dá flor? Sério mesmo que você pretendia aprender a cozinhar já preparando uma bacalhoada à Gomes de Sá para doze pessoas? Sério mesmo que se depois de anos de treino seus suflês não forem tão perfeitos quando os dos restaurantes franceses você vai abandonar as panelas e os ramequins?
Assim como acontece com o cozinheiro, um bom jardineiro se faz de suas próprias tentativas e erros. Os erros doem – que o diga quem já precisou jogar fora uma panela inteira de algo carbonizado ou uma orquídea presenteada por alguém especial –, mas são ótimos mestres. Cabe a nós, aprendizes, aceitar o inevitável: eles fazem parte do processo.
Morreu sua plantinha? Fique triste, sim, mas insista. Compre ou adote uma nova orquídea. Persevere. Procure descobrir o que deu errado. Leia um pouco mais sobre a planta que você pretende adquirir e avalie se poderá oferecer o que ela precisa para ser feliz. No próximo vaso, você estará um passo à frente das pragas e um pouquinho mais esperto. Quer aprendizado mais bacana que esse?
Agora bora sujar as mãos de sangue, digo, terra.