Como NÃO cultivar tomates num apartamento
Adoro uma roça. Tenho palpitações cada vez que vejo uma horta e, se tiver um galinheiro por perto, é capaz de eu botar um ovo de alegria. Em 2001, quando ganhei meu primeiro naco de varanda, minha fazendeira interna despertou. Plantei morangos, pitanga, amora, jabuticaba, vários tipos de temperos. E cinco pés de tomate. A maior parte da plantação morreu ao se dar conta de que vivia num canteiro mínimo, de 70 cm de profundidade por 20 cm de largura. Aumentei os cuidados: oito horas de sol por dia, adubo duas vezes por mês, água à vontade. Quando o tempo fechava, eu chovia nelas com um borrifador e água de colônia. Era a horta mais mimada da cidade.
Quando os tomateiros já estavam maiores que Michael Jordan, minhas vizinhas começaram a me inquirir. Moravam no prédio montes de velhinhas. Da rua, dava para ver begônias, azaléias e mini-rosas pendendo das varadas. Só na janela do apartamento 64 – o meu – é que havia estacas. Às vezes, eu abria a porta e topava com duas eufóricas senhorinhas: “Ai, benzinho, posso mostrar para minha irmã aquele seu canteiro?”. Nem dava tempo de responder. As duas passavam por mim como furacão. “Não falei, Abigail, ela tem tomates na janela!”
Já tinha me acostumado a ser a aberração do prédio quando os tomates começaram a ficar vermelhos. Foram 20 dias de assédio. Se eu encontrasse uma delas no elevador, não conseguia sair antes de prometer que daria um tomate. Comecei a andar de escadas, mas elas sempre me achavam. “Só unzinho?” Me sentia uma celebridade. Eu já tinha prometido o canteiro inteiro quando aconteceu o pior. Numa noite de vento forte, os tomates se jogaram do parapeito. Suicídio coletivo. Levei meses para perdoá-los, mas, hoje, eu os entendo. Foi muita pressão.