Um jardim pronto ou plantado por você?
Um jardim para já
O passo a passo secreto para fazer um projeto paisagístico de sonhos em apenas... uma vida!
Por Carol Costa
"De que sabor é esse doce que você está comendo, Laurinha?" A pequena olha a embalagem como se soubesse ler, pensa um pouco e diz "sabor de gostoso!". Acompanho com curiosidade o crescimento das minhas sobrinhas. Gosto de ver como vão mudando as feições, a voz, as brincadeiras. Bebês parecem se desenvolver tão devagar, mas basta ficar uns meses sem vê-los e logo se nota como espicharam, já não cabem nas roupinhas, olha só, o cabelo fino caiu e a cabeça está coberta de cachinhos. Eram mudinhas ainda ontem e, agora, já estão desabrochando.
Você sente essa curtição quando eles ainda nem vieram ao mundo. Converse com qualquer grávida e vai ouvir em detalhes cada pequena mudança no corpo, a ansiedade de ver logo a carinha do filhote, o desejo de que cresça forte e saudável.
Já pensou como seria estranho uma grávida dizer "ai, amiga, não vejo a hora que ele saia da faculdade...". Como assim? Se o bebê nem nasceu, pra que essa pressa toda?
Existe receita para ter um jardim rápido?
Pois é exatamente assim que conversam comigo muitas pessoas que querem começar um cantinho verde em casa. Estão "grávidos" da ideia de ter mais contato com a natureza, mas querem tudo pronto. Não tem curtição, não tem "vamos escolher os vasos, os seixos, se vai ter horta, como faz pra ter passarinhos", nada. Esse tipo de "grávidos" aparece pedindo algo que fique "bonito, verde, florido e dando fruta o ano todo". Juro. Assim, como se fosse um pedido num restaurante fast food, manja? "Ah, pois não, um jardim para já. Fritas acompanha, senhor?"
Começar um jardim é um jeito super divertido de NÃO sentir o tempo passar. Logo vira um exercício de terapia, quase um mantra, um jeito de limpar a mente e estar ali, tirando matinho, de corpo e alma. O tchanãs da coisa é justamente o processo e não o fim — até porque a jardinagem nunca tem fim.
Comece semeando e acompanhe o crescimento
Quando você começa a semear uma horta, mesmo que seja no menor dos vasos, num cantinho de nada do parapeito de uma janela, abre-se um clarão de energia na sua vida. Como ouço minhas irmã e cunhada dizerem da maternidade, o jardineiro amador logo percebe que tem "muito mais pique do que imaginava". É um tal de regar daqui, podar dali, checar se tem praga, recolher folhas secas, colocar adubo, colher... A planta pode até ter vida curta, mas o trabalho, não, e parece que quanto mais árdua é a jardinagem, mais gostoso fica.
Não quero que minhas mudas "cresçam logo" nem almejo uma mangueira que dê fruta o ano todo — uma das coisas mais deliciosas do mundo é esperar que chegue o verão para colher mangas no pé.
Adoro tirar fotos de sementes, ver como uma pedrinha tão dura e sem graça logo cria "perninhas", ganha folhas e espicha, ali, bem na minha frente, dia a dia. Amo acordar e ir correndo ver se o botão de orquídea já abriu ou ser surpreendida pelas novas cores que a abóbora ganhou no processo de amadurecimento.
A graça está toda no processo. No caminho. Curta suas plantas como quem curte um percurso bonito e não como quem não vê a hora de chegar ao destino final. Jardinagem tem sabor de gostoso.
Publicado na Revista Natureza – 354