Terrários, mini-jardins e seus segredos
O segredo da floresta envidraçada
Pequenos, fáceis de manter e perfeitos para ambientes internos, os terrários viram febre e atraem cada vez mais pessoas dispostas a cultivar folhagens em potes e garrafas de vidro
Por Carol Costa
De um lado da rua de cascalho fino, um cavalo pasta aos pés de uma gigantesca árvore-da-felicidade. Na outra margem, o pasto recoberto de musgo tem gotículas de orvalho e as touceiras de grama-preta despontam pela paisagem, aqui e ali, contrastando com as nervuras vermelhas da fitônia. Ao fundo, uma samambaia-havaiana se abre em leque qual um farto bambuzal, suas frontes dispostas em graciosas plumas verde limão. Um esquilo segura sua avelã imóvel como só um bicho de plástico é capaz de permanecer. São seis horas da manhã e o dia nasce agradavelmente quente e abafado dentro do vidro, na floresta mágica que o terrário encerra.
O meu primeiro terrário
Até que eu fizesse meu primeiro terrário, cinco anos atrás, sempre achei que esse era um artesanato de vó, primo-irmão do macramê, do bordado e do café de coador. E não é que tudo isso voltou — repaginado, modernoso, empoderador de moças, moços e moç@s, como se vê por aí. E terrário, aquele troço que você fazia a contragosto na mostra de ciências do colégio, virou um objeto de desejo, a promessa de ter seu quinhão de florestinha ali, preservado, intocável, secreto.
Meus primeiros arranjos dentro de vidros foram um fracasso. Levei um tempo pra confirmar o que é bem óbvio pros botânicos: que as suculentas realmente odeiam umidade. Colocava rosas-de-pedra, dedinhos-de-moça, kalanchoes e outras bonitezas de folhas gorduchas todas reunidas num vidro bonito, plantadas com capricho. Em poucas semanas as primeiras melavam, tornando o vidro elegante um ambiente de cultura maravilhoso para contemplar o rápido crescimento de… bactérias!
A verdade é que os terrários clássicos, aqueles criados pelo inglês Nathaniel Ward, conseguiram revolucionar a pesquisa botânica ao reunir num vidro fechado espécies com duas características essenciais: que gostassem de muita umidade e crescessem com pouca luz solar. Daí que nenhum dos livros moderninhos de "terrários" ia muito além do "faça um jardim num vidro aberto e encha de miniaturas", então, o jeito foi revirar a seção de artesanato dos sebos mais fedorentos que eu encontrasse pelo caminho. E, batata!, nas páginas amarelas dos livros antigos, entre o passo a passo de um banquinho de papel machê e a técnica de pintura em gesso, lá estavam os tais terrários.
Os modelos que foram moda no Brasil 30, 40 anos atrás não eram tão minimalistas quanto os atuais. Feitos em vidros esverdeados de gargalo muito fino ou em caixinhas com esquadrias metálicas, eles eram montados com paciência e capricho, a dupla que sempre gera bons resultados. As plantas, no entanto, continuam sendo as mesmas de hoje: samambaias, begônias, chamaedoreas, antúrios, lírios-da-paz, tudo crescendo numa massaroca verde que logo grudava nas paredes e enchia o dono de orgulho.
Terrário é a solução para ter plantas dentro de casa
Hoje, os terrários estão por toda parte, conquistando corações até de quem se achava "dedo podre". Além de serem fáceis de cuidar — basta manter o vidro pertinho de uma janela onde não bata sol direto —, essas florestinhas ganharam notoriedade porque, pouco a pouco, se transformam numa fonte de renda extra pra tantos desempregados ou descontentes com seus empregos. É quase como se fizessem um convite: "Venha viver neste micro mundo, aí fora a vida anda muito tumultuada, mas aqui dentro é calmo e silencioso". É um convite tentador, mas eu é que não sou louca de ir morar num lugar com minhocas do tamanho de cobras e onde os esquilos nunca saem do lugar…
Publicado na Revista Natureza – 351