A vez das orquídeas terrestres
Orquídeas terrestres passaram anos como cidadãs de segunda classe, longe dos mimos destinados a >Cattleyas, Laelias e tantas outras epífitas "nobres". Pois se prepare para uma virada nessa situação. Com a escassez de água nos anos anteriores, e uma busca cada vez maior por jardins mais baratos e fáceis de manter, as orquídeas terrestres despontam como queridinhas de paisagistas e ganham destaque em projetos badalados, a exemplo do grande uso de Spathoglottis unguiculata que se viu nas últimas edições de Casa Cor, por exemplo.
A tendência de usar orquídeas terrestres vai muito além da já "arroz de festa" Arundina bambusifolia, representante máxima da categoria nos últimos quinze anos. Grandes produtores e viveiristas têm investido em espécies e variedades terrestres que, antes, ficavam restritas a meia dúzia de vasos esquecidos num cantinho dos orquidários. É o caso, por exemplo, de Van Noije e R. Acosta, dois gigantes de plantas ornamentais que recentemente incorporaram orquídeas à produção.
Localizado em Holambra, R. Acosta é especializado em marantas e calatéias e, há 15 anos, vem trabalhando com Ludisia discolor, conhecida no exterior com o gracioso nome de orquídea-pipoca. A aposta nessa orquídea terrestre deu tão certo que eles investiram no crescente mercado de flores de corte e agora também trabalham com Ludisia vendidas em maços com 8 a 9 hastes.
Caminho semelhante percorreu Van Noije, maior produtor de crótons do Brasil. Quem visita as estufas de produção vai encontrar, em meio ao salpicado amarelo, vermelho e vermelho característico do croton, grandes canteiros com Epidendrum e Spathoglottis. Em breve, será cada vez mais comum encontrar uma Spathoglottis "Peach", de flores amarelas, ou Epidendruns "Fiesta", "Peach Glow", "Super Red" e "Red Glow", de folhagem super compacta, muito diferentes daqueles cultivados a sol pleno. Há ainda duas linhas com orquídeas de corte, uma com opções de Epidendrum "Carib", em hastes mais longas, e outra com Phaius thankerville, outra terrestre que engrossa a tendência.
Adaptando as orquídeas terrestres ao seu jardim
O aumento da oferta de orquídeas terrestres vem acompanhado de um desafio ao colecionador iniciante. É que a maioria das espécies aqui citadas são todas de sol pleno e cultivo bastante rústico – exatamente o oposto de como a planta vem sendo tratada pelo produtor. Para padronizar a produção e conseguir o porte compacto do Epidendrum, por exemplo, a planta é cultivada em telado, num ambiente de luz difusa e de rega e adubação diárias. É por isso que muita gente pode estranhar que uma orquídea-grapete comprada no supermercado, por exemplo, se queixe de receber mesmo um sol fraquinho nas folhas. Para evitar queimaduras e até a morte das orquídeas, é preciso submeter a planta a um processo chamado rustificação – aos poucos, ir aumentando a insolação até que uma orquídea de sol pleno tenha novamente se adaptado à vida "dura" e não mais aos paparicos da estufa.
Conheça mais orquídeas terrestres
Arundina bambusifolia
Conhecida como orquídea-bambu. Originária do Sudeste da Ásia, passa de 2 metros de altura, com pseudobulbos semelhantes a um pé de milho. Floresce quase o ano todo em sol pleno tendo como substrato terra comum de jardim, mantida úmida e bem adubada. Produz muitos keikis e precisa de replantio para não ficar rala por baixo.
Cymbidium sp
O gênero tem quase 50 espécies registradas e mais de 10 mil híbridos. Muitos Cymbidium são capazes de crescer tanto em substrato de epífitas quanto numa mistura de terra vegetal, areia e composto orgânico. Pode crescer a pleno sol desde que passe pelo processo de rustificação.
Epidendrum sp
Por sua origem tropical – muitas espécies são nativas do Brasil, Colômbia e Costa –, gosta de clima quente e úmido, com temperaturas que não desçam a menos de 10ºC. É planta rústica, de flores muito duráveis. Cresce tanto em substrato para epífitas quanto em canteiros preparados com terra, composto e areia.
Ludisia discolor
É uma das orquídeas de folhas mais exuberantes que existem: na Malásia, enfeita ambiente internos mesmo quando está sem flor. As folhas são aveludadas, de um roxo escuro coberto de veias vermelhas, contrastando com as flores brancas. Cultive em terra adubada, mas sempre longe do sol forte.
Neobenthamia gracilis
Nativa da África, é famosa por suas inflorescência brancas em forma de guarda-chuva, com flores pequeninas de cabelo salpicado de vermelho. Pode se desenvolver em substrato para plantas terrestres desde que não falte umidade nem vente muito. Adora sol, mas algumas mudas precisam se reaclimatar.
Renanthera coccinea
Quando é plantada em ambiente ensolarado, a Rexanthera intensifica seu vermelho vivo e produz hastes mais longas do que quando cultivada só na claridade. De cultivo semelhante ao do Epidendrum, sa florada pode durar vários meses, motivo por que essa orquídea vem fazendo sucesso como flor de corte.
Spathoglottis unguiculata
Chamada no exterior de orquídea-grapete em alusão à cor e ao perfume de uva que suas flores emanam, a Spathoglottis tem porte grande, folhas plissadas e muita energia, produzindo várias rotações quando tem espaço e solo leve, misto de terra vegetal e areia. Aprecia o sol da manhã, mais suave do que o da tarde.
Cresce procura por orquídeas em arranjos florais
Hoteis, pousadas, empresas, clínicas estéticas, consultórios médicos... Com o aumento da demanda por arranjos florais, o mercado de flores de corte vem recorrendo às orquídeas para oferecer um leque maior de produtos premium. Se Phalaenopsis, Cymbidium e Vanda já tinham ganho até os corações das noivas mais neuróticas, agora é a vez de outros gêneros de orquidáceas virarem febre. Ludisias e Epidendrums estão entre as flores mais pedidas: no primeiro caso, pela altíssima durabilidade e abertura sequencial das flores, no segundo, graças ao colorido das flores. Para os produtores, a aposta na dobradinha orquídea plantada-flor de corte é interessante porque minimiza eventuais perdas e dá sobrevida a plantas que estão com a folhagem feia.