O melhor e mais barato antidepressivo do mundo
Ali não chega o barulho das buzinas. O carteiro não te encontra pra entregar contas a pagar. Seu chefe não aparece para dar bronca, aquela colega invejosa não consegue te atingir. Ali, naquele canto tão sagrado, não há dedos apontados para você. Ninguém te julga, te condena, nada faz você se sentir inferior. Porque ali é seu cantinho verde, seu oásis particular que cabe tanto num quintal enorme quanto num prosaico conjunto de vasinhos.
É pra lá que eu vou quando preciso esfriar a cabeça, quando o dia está difícil, quando me sinto triste. E as plantas sempre me acolhem. Quem vê de fora olha uma mulher cuidando de suas plantas, mas todo amante da natureza sabe que são as plantas quem cuidam da gente. Seus ramos oferecem um abraço, as folhas tremelicando ao vento parecem varrer suavemente o pó dos dias ruins. Aquele falatório interior vai se esvaziando na minha mente e logo estou concentrada num botão que está prestes a florir, vendo as formigas passarem tão apressadas, observando uma gota de água se equilibrando na ponta de uma folha.
Quinze minutos num jardim fazem milagres que nem a ciência duvida mais. Uma pesquisa holandesa mostrou que quanto mais plantas há numa casa ou nas imediações, menor a incidência de depressão, ansiedade, pressão alta e problemas cardíacos. Foram ouvidas 350 mil pessoas para esse estudo, que revelou também que os efeitos de um jardim são ainda maiores em crianças, idosos e na população de baixa renda. Outra pesquisa, nos Estados Unidos, avaliou o impacto que um passeio num parque tem no ser humano: os participantes eram submetidos a vários testes antes e depois de caminharem num jardim botânico. Quem ficou em contato com a natureza por alguns minutos revelou um humor e uma memória melhores do que aqueles que não andaram no parque.
Pesquisas em botânica no Japão, Inglaterra, Escócia e Espanha trazem resultados semelhantes, apontando benefícios até mesmo de as crianças brincarem na terra. É que o solo contém uma bactéria, Mycobacterium vaccae, que reduz a ansiedade e melhora a capacidade de aprendizado ao provocar o crescimento de células produtoras de serotonina. Pesquisadores da Universidade de Bristol, no Reino Unido, descobriram que essa bactéria pode ajudar no desenvolvimento cognitivo infantil, desempenhando o papel de um antidepressivo natural. Nem dá pra se surpreender com esses resultados: qualquer adulto que já fez bolinho de terra, que subiu em árvore e colheu fruta no pé, sabe que aquilo, sim, é que é infância boa!
Volto ao meu jardim e deixo que aquele cheiro de terra molhada invada meus pulmões, expulse a fuligem e a poluição da cidade, me renove. Acaricio as folhas do meu pé de capim-limão crescendo tão animado num canteirinho de menos de um metro quadrado – o cheiro cítrico me traz paz. Meus quinze minutos passaram devagar como nuvens sem vento, e eu estou pronta, corpo fechado, para encarar a correria da rotina mais uma vez. Só que agora levo uma floresta inteira dentro de mim.