Das raízes aos frutos, como nascem as florestas
Seu Flores nasceu árvore, raízes grossas fincadas na cozinha de terra batida. Cresceu rápido, espreguiçando seus galhos pela sala, atravessando portas, escancarando janelas. Gerou quatro rebentos, uns mais lenhosos, outros mais herbáceos. Em pouco tempo já não cabia na pequena Holambra. Viajou de carona, passou fome, frio, foi atacado por pernilongos enquanto dormia numa manjedoura – mas, madeira de lei que é, mostrou fibra e perseverou.
Em 30 anos, Flores já era uma floresta inteira, com sementes espalhadas em potinhos pela casa, abelhas no teto da sala, um cheiro de café no ar e a terra repleta de frutos, flores e surpresas. Plantava melões, violetas, bulbos – e ipês, cambucis, quaresmeiras. Colheu 86 potes de mel do forro da casa, não sem antes pedir a gentileza de a abelha-rainha levar seu séquito um cadim mais pra direita.
Quando o conheci, logo reparei que as raízes tinham dado lugar a pés e pernas – a árvore se mexia! E levantava 150 quilos num galho só, como se fosse um holandês carregando um fardo de feno fresco. A casa ainda era a mesma que a semente encontrou, mas as estantes agora se vergam sob o peso de livros de botânica em quatro, sete, todas as línguas das plantas.
Seu Flores, agora Flop, semeia florestas. Começou a primeira lá mesmo, no sítio em que nasceu, em Holambra – com um jequitibá que já passa dos 27 metros de altura. Vive esquecendo as chaves, a carteira, o dinheiro para o pedágio – quase na proporção inversa em que lembra os nomes científicos de plantas, suas famílias, seus gêneros, seus usos medicinais.
Gosta de sopa morna, de café novo, de soda cáustica, de lavar louça, de lixar as mãos com um esmeril (!) e de cortar a grama com o trator novo. Mas gosta, sobretudo, de andar descalço. Sabe como é, para não perder as raízes.