Mangueira se mata de desgosto de viver em vaso
Sou a favor da eutanásia em plantas terminais. É difícil aceitar que a sua begônia preferida precisa ser sacrificada ou que as orquídeas realmente não querem mais viver ao seu lado. Passar pelas quatro fases do luto é o mais duro. Minha mangueira já tinha dado sinais de que não tinha mais apego a esse mundo. Primeiro, se trancou no banheiro e ligou o gás. Cheguei em casa a tempo de encontrá-la desfalecida, ainda no vaso – o sanitário. Levei-a de volta para a sala me negando a acreditar que uma árvore tão pequena como ela fosse capaz de atentar contra a própria vida.
Ela era uma planta determinada. Semanas depois, cortou os pulsos. Minha casa se encheu de folhas secas, uma cena realmente degradante. Fiquei com raiva. Como ela podia ser tão ingrata?
Três anos atrás, quando nos encontramos num orfanato, ela tinha 50 cm e três folhas mirradinhas. Tinha sido desacreditada pelos jardineiros. “Esta é uma mangueira perdida”, eles me disseram. Não quis ouvir. Levei-a para casa, dei adubo do bom e do melhor, comprei as terras mais caras e fertilizantes importados. Planejei seu futuro: ela seria uma árvore frondosa que, depois de tantos anos de dedicação intensa, alimentaria minha velhice com frutos carnudos e cheirosos. Nossos netos brincariam sob sua imensa copa. Seriam anos gloriosos.
Foi nessa época que começamos a nos desentender. Eu queria que ela fizesse Arquitetura, mas ela teimou em ir para o Jornalismo. Brigamos, fiquei um ano sem falar com ela. E agora, que estávamos indo às mil maravilhas, a mocinha me vem com esse dramalhão. Fiz que não era comigo quando ela ameaçou se jogar da janela. Ela não me pegaria com uma chantagem barata daquelas. E não pegou mesmo, mas fez pior: secou. Eu sabia que ela não estava feliz com sua forma, que se achava gorda e tudo. Só nunca imaginei que plantas fossem capazes de fazer greve de água.