Lagarto, o melhor inseticida para sítios
– Com tanto espaço, por que eles têm que se esconder aqui?
Essa é a pergunta que dona Fátima fazia todas as manhãs, assim que acabava de lavar a varanda de sua chácara. Balde e vassoura em punho, ela olhava desanimada para o chão, onde a água fazia uma poça perto de um grande cano de esgoto. Perto da casa dos lagartos.
Dez anos atrás, quando legislei em favor dos répteis pela primeira vez, eles eram um simpático casal com pouco mais de um metro de comprimento do focinho à ponta do rabo. Hoje, são cinco grandes répteis que passam as manhãs em busca de comida e as tardes lagarteando ao sol. Levariam um vida pacata de cidadãos anistiados não fosse o fato de hibernarem justo no cano de escoamento da lavanderia, no quintal da, digamos, casa de campo da minha sogra.
Sou uma defensora fervorosa do equilíbrio ecológico. Por mim, girinos deveriam ser vendidos em saquinho, que nem peixinho dourado, para que cresçam e acabem com as moscas. Depois, estariam liberados para curtir a aposentadoria coaxando num charco no interior. Tamanduás poderiam ser alugados para uma curta temporada no forro da sua casa, exterminando cupins e formigas. Só as lagartixas seriam receitadas mediante prescrição biológica, porque não são capazes de discernir pernilongos de borboletas.
Um lagarto é mais eficiente do que um gato nas táticas de guerrilha anti-ratos. Uma família de cinco répteis dá conta de manter livre de pragas um estoque inteiro de cereais. Você não precisa se culpar por deixá-los sozinhos no final de semana nem tem de andar com um saquinho plástico nas mãos enquanto seu lagarto se alivia no jardim. Eles não latem, não rosnam, não precisam desmamar, são limpos e trocam de roupa sozinhos.
Lagartos se mantém íntegros até quando você tenta enxotá-los: a língua bifurcada vibra no ar, como a lembrá-lo de que eles podem ser tão traiçoeiros quanto suas primas cobras. Se quer viver bem ao lado de um lagarto, aprenda a tocar flauta.