Sua loucura por orquídeas virou doença?
Dez anos atrás, quando me apaixonei perdidamente por orquídeas, comecei a fazer toda sorte de coisa imbecil que você possa imaginar. Enfrentei duas horas de karaokê japonês só para comprar plantas mais baratas. Enfiei o dedo em tanta lesma que perdi a conta. Quase fui mordida por uma caranguejeira que dormia sorrateira entre dois vasos recém comprados. Viajei de carro nas posições mais incômodas possíveis só para não estragar a folhagem de uma orquídea. Varei muita madrugada na feira noturna do Ceagesp em busca de uma espécie mais rara, me endividei para pagar uma Vanda e até móvel já doei para ter mais espaço paras minhas meninas.
Nada disso se compara a entrar numa loja agrícola para comprar adubo. Quando você chega nesse ponto, é sinal de que os orquidários já não são o bastante — você agora busca insumos no mesmo lugar que os produtores o fazem, a preços tão mais baixos que os das casas de jardinagem que choro só de imaginar quanto dinheiro gastei de bobeira.
Entrar nesses lugares é como visitar um mundo paralelo. Eles são grandes galpões, com tralhas do chão ao teto, frequentado por fazendeiros e pequenos produtores, toooodos homens. Os atendentes não têm pressa nenhuma, aliás, parece que o relógio local anda mais devagar. Para você ter uma ideia de como a realidade lá é bem diferente da encontra em floriculturas e orquidários limpinhos:
— Oi, o senhor tem adubo Bokashi?
— Tenho.
— Quanto está o pacote?
— Cem reais.
— Cem reais!?! Quantos gramas vêm?
— Gramas? O saco tem 40 kg, moça.
Fiquei atônita por uns minutos até meu cérebro-acostumado-com-potinhos-de-Bokashi-do-tamanho-de-um-copo-americano processar a informação.
— Moço, é tanto quilo que nem consigo calcular. Que tamanho tem o saco?
— Vem aqui.
Ele me fez dar a volta até a lateral do galpão – literalmente com fardos do chão ao teto –, onde sobrava espaço para uma só pessoa circular.
— Tá vendo aqueles sacos?
— Jisuis, é muita coisa!
— Aqueles são de 20 kg. É o dobro disso.
Pegou o espírito?