Do primeiro milhão ao milhinho no quintal

© Edna Fróes/Agapanthus Floricultura

"Emagreça até 9 kg por semana com a dieta do limão!" Já tinha perdido as contas de quantas reportagens sobre regimes malucos passaram pelas minhas mãos quando eu ainda tinha outra vida, a de jornalista. Entediada, olhei pela janela. Fazia uma manhã ensolarada lá fora. As grevíleas balançavam ao vento. As sibipirunas estavam em plena floração. Desci pra tomar um café e encontrei um rapaz debruçado sobre o canteiro de clívias, dividindo as densas touceiras. E, então, fui tomada por aquele sentimento de pássaro engaiolado: "E se eu largasse tudo e fosse curtir a vida do lado de fora do ar condicionado? E se escrevesse sobre algo que eu realmente amasse? E se fizesse alguma coisa com plantas?".

Em busca do primeiro milhão


Isso foi há cinco anos, quando meus vídeos mais tosquinhos sobre orquídeas estavam bombando no YouTube sem eu sequer monetizá-los. As bancas de revistas estavam lotadas de publicações com chamadas do tipo "Vire seu próprio patrão!" ou "Trabalhe de casa, de pijamas, e ganhe mais que seu chefe". Havia um título em especial que me incomodava e volta e meia aparecia nas capas: "Faça seu primeiro milhão antes dos 30 anos". E eu, na época com 34, me sentia velha, acabada, perdendo tempo.

Quando finalmente pedi demissão pra abrir o Minhas Plantas, gastei todo meu FGTS no sonho de virar uma jornalista especializada em plantas. Fiz curso de tudo o que pintada, inclusive das modinhas de gestão, como Design Thinking ou Análise SWOT. Segui a cartilha completa da "empreendedora", palavra que eu detestava, mas que não encontrava outra pra me descrever. Aprendi a mentalizar um "valor" que eu queria retirar por mês, o tal salário "dos sonhos" que eu julgava ser merecedora.

Trabalho com plantas de sol a sol


Trabalhei duro, 15, 16 horas por dia. Trabalhei aos finais de semana. Trabalhei em aniversários familiares, nas noites sem fim, nas madrugadas a dentro. Achei que o dinheiro não entrava porque eu tinha de fazer mais cursos. Porque não estava preparada o bastante. Porque não tinha comprado os livros certos nem feito o Canvas correto do meu produto. Eu nem sabia como fazer dinheiro. Devia abrir uma floricultura? Virar paisagista? Fazer implantação de jardins? Vender terrários? Trabalhar na decoração de casamentos? Não tinha essas respostas, então, eu tentei de tudo. Abri CNPJ de floricultura, fiz curso de jardinagem, depois, de paisagismo, aprendi a montar terrários, participei de feiras, estudei arranjos florais. Em cada um desses Eu trabalhava ainda mais horas, mais domingos, me afastando dia a dia da praça, do parque, do gramado, do "lá fora" que eu tanto desejei.

Um dia, caiu a ficha. O tal do milhão, na verdade, era a cenoura amarrada na frente do cavalo, um estímulo a mais pra roda girar e eu comprar, comprar, comprar. Me fez consumir mais cursos, livros, serviços, coisas de que eu talvez nem precisasse se tivesse me focado no básico: eu amava as plantas, elas me amavam, eu poderia passar a vida toda trabalhando com elas. Talvez não ficasse rica. Talvez não fizesse um milhão nem aos 80 anos, mas o foco da minha nova carreira finalmente poderia voltar a ser aquilo que me atraiu desde o começo, o tesão. A vontade de fazer algo que me desse prazer.

A virada de vida


Percebe a virada? Ela acontece quando você finalmente deixa de se distrair com o barulho do "compre", "faça", emagreça" e encara o silêncio que vem de dentro. Aquele, que só você conhece e do qual tanto foge. É ali que brotam as plantas mais raras, as flores mais belas da nossa existência. E esse canteiro, como é natural na jardinagem, não exige muito para ser cultivado. Bastam silêncio e disposição.
Hoje, gasto menos com tudo. Roupas, sapatos, bolsas. Como mais em casa, o que gerou uma grande economia nos restaurantes e uma inestimável qualidade de vida. Minhas contas vivem entre o vermelho e o azul, mas eu não ligo mais. Tudo bem se eu não ganhar um milhão antes dos 40 — se eu puder plantar milhinhos na varanda, vai ter valido à pena.

Carol Costa como foi mudar de carreira para trabalhar com plantas


A piracicabana Carol Costa conta em detalhes como foi a mudança de carreira, a criação do site Minhas Plantas e a transformação de jornalista em "nossa jardineira" que continua até hoje - clique aqui.
Se quiser inspirar-se mais ainda, também leia o post "Quando comecei a trabalhar com plantas".

postado em 12/09/2017 - Leia mais
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