Como ter plantas e bichos de estimação
Como manter plantas e bichos de estimação em harmonia
Será que existe algum jeito definitivo de ter um jardim bonito em casa sem abrir mão da companhia de cães e gatos?
Por Carol Costa
Cheguei na casa da minha irmã de surpresa, doida pra ver minha sobrinha. Havia espuma pra todo lado, como se tivessem dado uma animada festa do pijama. Ela me recebeu sonolenta e foi me conduzindo casa a dentro, tropeçando em brinquedos espalhados pelo chão: bonecas comidas, bloquinhos de montar comidos, um frango de borracha sem cabeça. "Ah, isso é coisa da dona Ju", esbravejou. Ao ouvir seu nome, Juliana surgiu toda animada, trazendo a cabeça do galináceo, que largou antes de se jogar no meu colo. "E ainda acha bonito. Esta semana ela comeu o sifão do tanque, Cá. Outra vez. É o terceiro sifão que eu compro em seis meses..."
Juliana é uma mestiça de boxer com vira-lata. Tem três anos, todos eles dedicados a esgotar a paciência da minha irmã. Sua dieta alimentar é bem balanceada e inclui suculentos chinelos, crocantes pés de cadeira e uma vasta gama de aperitivos, de braços de bonecas a fiação, encanamento, roupas no varal e todo tipo de planta que se tentar cultivar. Ração, que é bom, ela deixa pros pardais.
Quem tem plantas e bichos de estimação sabe da dureza que é conciliar essas duas paixões. De um lado, a gente toma o maior cuidado pra não colocar dentro de casa nada que possa fazer mal pra cães e gatos, mas, de outro, eu quase desejo que fiquem com uma bela dor de barriga pra ver se aprendem a parar de fuçar nas plantas. (Ok, só desejo isso da boca pra fora, ao primeiro sinal de vômito, meu coração se aperta no peito, eu sei bem).
Gatos, cachorros e plantas
Hoje, moro com três gatos, mas já vivi numa casa com 34 felinos e quatro cachorros. Minha avó tinha enormes alamandas no quintal, uma trepadeira considerada tóxica, e bicho nenhum ousava chegar perto delas. Parece que têm um sensor, né? Mas era sobrar um pedacinho de terra capinado, preparado pra receber uma horta, que todos os gatos dos vizinhos o transformavam em banheiro e, em poucos dias, eu tinha uma avó muito zangada e a gataiada jurada de morte.
Quando vim morar em São Paulo, logo arranjei pets. Enquanto cachorros são bichos horizontais, que só detonam o que está ao alcance deles, os gatos escalam cortinas, pulam em cima da geladeira, são capazes de subir no lustre se aparecer uma mosquinha. Gatos são, definitivamente, bichos verticais: contra eles, não basta colocar as plantas em estantes, é preciso garantir que eles não subam nas prateleiras.
Como manter os animais longe do jardim
Fiz de tudo pra manter os bichos longe do jardim. Pra minha irmã, sugeri cactos bem espinhentos, que foram uma ótima maneira de dona Juliana palitar os dentes — nem a cadeira-de-sogra sobreviveu à fúria canina. No meu apartamento, comprei erva-de-gato na esperança que Oto, Lua e Ronaldo pudessem detonar um vaso e poupar os outros. Eles amaram, mas não abriram mão das outras plantas, não. No auge da minha irritação, fiz uma barricada de palitos de churrasco no cachepô da árvore-da-felicidade, tentando impedir que eles urinassem na terra. Como tantas soluções, funcionou até que eles descobrissem um jeito de arrancar os palitos.
Toda vez que algum leitor me pergunta como manter os bichos longe das plantas, minha vontade é responder: "Olha, se você descobrir um jeito, me conta, pelamor!". Porque eu até agora não achei nenhuma solução perfeita.
Ok, cheiros fortes incomodam a bicharada. Hortelã, manjericão, capim-limão e tantas outras espécies perfumadas parecem ser um incômodo pra quem tem o olfato muito mais sensível do que o humano.
Aqui em casa, testei com sucesso uma vermiculita tratada pra esse fim, com um cheiro que lembra acetona, desagradável o bastante pra eu notar claramente meus gatos dando meia volta ao passar pelo vaso. Esse tipo de produto funciona só por umas semanas: como o cheiro é volátil, depois de um tempo a essência evapora e, se o bicho não tiver se condicionado a não voltar ali, logo voltará a ter o comportamento de uma retroescavadeira.
Daí que você chegou até aqui, querido leitor, e deve estar decepcionado. "Puxa, achei que a Carol tinha uma solução..." Não tenho. Aqui pratico a jardinagem-verdade, preciso manter o pacto de sinceridade que sempre tive com você. Na real, o único jeito que encontrei de ter plantas e gatos é mantê-los em ambientes separados: os gatos dentro de casa, as plantas, na varanda. Espero de coração que você possa compartilhar o que deu certo aí na sua casa. Quem sabe assim a gente consegue conciliar nossas paixões, não é mesmo?
Publicado na Revista Natureza – 349