A planta guerreira
Um par de estranhas folhas verdes apareceu do nada num vaso que estava servindo de berçário para tomates. Era um broto mínimo, com folhas de bordas serrilhadas bem diferentes das outras mudas. Quando atingiu dez centímetros, já disputava a tapa o pouco de sol que os grandes tomateiros esnobavam. A garra da plantinha me sensibilizou tanto que comecei a dar especial atenção ao vaso, preocupada em dividir em lotes iguais terra, água e calor.
Comecei a desconfiar do caráter da muda quando tentei tirá-la do vaso de tomates e fiquei com a mão cheia de espinhos minúsculos e irritantes. Peguei um jornal para proteger os dedos e fiz força para puxá-la, mas a única coisa que consegui foi derrubar um dos tomateiros. Coloquei o vaso no chão, segurei-o entre os pés e, com uma força de abrir vidro de palmito, consegui tirar a planta – não sem trazer toda a terra e o outro tomateiro junto. Nunca vi uma muda de trinta dias se apegar com tanto afinco a um monte de terra. Ô, plantinha guerreira, sô!
Depois que ganhou um vaso próprio sem raízes concorrentes, a muda deslanchou – e ia ficando ainda mais esquisita, com pequenas brotoejas verdes nascendo junto ao caule cada vez mais lenhoso. Passei dias perguntando nas floriculturas o nome da planta, levando uma folhinha a tiracolo pra tudo que é lugar. Ninguém sabia. Até que meu jardineiro fez a revelação: “Isso aqui é quebradeira-santa”, disse, e cortou o caule com uma tesoura de poda antes de eu esboçar qualquer reação.
Dias depois, encontrei uma família delas crescendo num terreno baldio perto de casa. A muda que eu criava com mimos de orquídea rara não passava de uma erva-daninha. Da pior espécie.