A mulher que cria plantas dentro de lâmpadas

© Alexandre Pavan/Minhas Plantas

Juliana acordou um dia com a pontinha do dedo mindinho do pé direito meio verde. Se esforçou para lembrar de alguma pancada, quem sabe um tropeção de madrugada. Nada. Na semana seguinte, seu-vizinho também estava verde – claramente verde e não o roxo esverdeado típico dos hematomas. Juliana não saía de casa sem meias. Em poucos meses, o verde subia pelos calcanhares da jovem professora de fotografia. Então ela resolveu acabar de uma vez com aquilo: reuniu seus cadernos, pegou a velha câmera compacta e se mandou – de mala, gatos e cuias de cerâmica – para Holambra.

Quando conheci Juliana, a doença já não tinha mais tratamento. Ela colecionava variedades de sálvia e ninhos de passarinho. Há tempos tinha virado vegetariana e não bebia uma gota de café ou álcool "porque o gosto é ruim". Recebia as visitas deixando duas gérberas cor de laranja recém colhidas em cada cômodo e servindo cookies recém assados em guardanapos laranjas com desenhos de gérberas. No banheiro, até o papel higiênico ostentava ilustrações de cactos e joaninhas.

Logo percebi que tudo ao seu redor padecia do mesmo mal. Gambás caíam das árvores como frutas maduras. Árvores caíam no telhado como gambás maduros. Sua pacata gata da cidade se transformara em uma voraz caçadora de ratos e os trazia como troféus para a porta do quarto. Juliana gritava "Periquiiiiitaaaaa" – e a cachorra de nome Cuca aparecia. E pontualmente às 20h, uma rã menor do que uma moeda de R$ 1 se fazia ouvir pela casa amplificando seu coaxar dentro de um regador de plástico.

A vida de Juliana nunca mais foi a mesma. Num dia, ela resgata o cachorro que caiu num poço. No outro, replanta um lote inteiro de mudas de árvores comidas por vacas. Desde que o verde estacionou na altura de seus joelhos e os pés criaram raízes, Juliana nunca mais deixou de usar Crocs com meias. Para relaxar, lê coisas como "A Elegância do Ouriço" ou "Histórias de Cronópios e de Famas" – junto com guias de identificação de plantas e relatórios ambientais.

Debaixo de todo aquele verde alface, Juliana ainda faz coisas que me deixam bege, como organizar um viveiro inteiro tal qual uma planilha de Excell. "As mudas de cambuci estão na F-35", grita ela enquanto carrega um caminhão com uma floresta ainda criança. Ela aprendeu a manobrar trator, a ler as horas nas nuvens e a falar holandês – só não aprendeu a usar o Facebook porque ele é azul demais.

Hoje, quando olhei bem de pertinho, encontrei um fio de cabelo verde na Juliana. Achei melhor não contar. Não estamos numa boa Lua para podas radicais.

© Carol Costa/Minhas Plantas

Curso Gratuito de Orquídeas - Resumos

Nossa jardineira Carol Costa criou um curso gratuito de orquídeas, com transmissões diárias no Stories do Instagram do Minhas Plantas. O curso começou no dia 30/04 e vai até o dia 05/05. Corre lá no perfil da louca das plantas no Instagram (clica aqui) pra assistir a última aula. Ah, … (+)
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Substrato

Substrato é o termo técnico pra nomear aquilo no que uma planta é plantada. Não é a mesma coisa que “terra” (um conjunto de características físicas, químicas e biológicas a que se dá o termo técnico de “solo”), mas você pode se referir a ele como a “terrinha” na qual … (+)
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Ficar preso em casa, reclusão, quarentena, confinamento, não importa como é chamada essa temporada. Para evitar a propagação do Covid-19, muitas pessoas ficarão em casa o maior tempo possível. Adultos trabalharão no modo home office, crianças não irão às escolas e idosos permanecerão em seus lares. Mas, como diz nossa jardineira … (+)
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Quando pensamos em cultivar plantas, imaginamos que basta um pouco de terra ou substrato e, de vez em quando, adubo e água. Essa regra parece que é suficiente, seja para jardim, canteiro de horta ou apenas um vaso dentro de casa. Mas, entre o solo e as verdinhas, precisa ser … (+)
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Com os espaços cada vez menores em casas e apartamentos, a jardinagem precisou se adaptar e… escalar paredes! Jardins verticais, painéis verdes, quadros vivos, os nomes variam, mas a técnica é a mesma: trabalhar vasos presos na vertical, bem pertinhos uns dos outros, com ou sem irrigação automatizada, liberando espaço … (+)
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Perto do coração selvagem

Samambaias, fícus, peperônias e avencas compartilham meu teto há quinze anos, desde que decidi levar uma vida longe do interior. Mantê-las bonitas e verdejantes é uma questão de honra. Ainda mais quando minha mãe vem me visitar, com seus dedos verdes e olhos de lince, capazes de encontrar pulgões e … (+)
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Muito prazer, eu sou uma orquídea!

“Orquídea? Xí, ela custa uma nota e dá muito trabalho!” Se você gosta de plantas certamente já deve ter ouvido comentários desse tipo sobre essas flores tão bonitas e misteriosas. “Sem falar que elas detestam água...” Não raras vezes, quem se atreve a cultivá-las recebe informações erradas até mesmo nas … (+)
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Aprendi a cozinhar com 7 anos e, aos 12, já era capaz de fazer um jantar simples para quatro pessoas. Arroz, que pra todo mundo é sinônimo de encrenca, nunca me tirou do sério, mas, mesmo assim, queimei muita panela tentando fazer um prosaico pudim. Já salguei demais, já salguei … (+)
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