Flores e frutas que atraem passarinhos

© Carol Costa/Minhas Plantas

Precisei de dois dias para entender que o vulto fugidio que eu via de relance na janela era uma curiosa rolinha — um macho, como soube meses depois, dada a plumagem azulada na cabeça. Era o terceiro mês em que eu colocava frutas num pratinho preso do lado de fora do vidro, no quinto andar de um prédio em frente a uma avenida barulhenta e movimentada.

Cansada de ver pedaços de mamão e banana voltarem intactos para a cozinha, eu tinha desistido de ofertar frutas ao passaredo. Numa última tentativa de ter um lampejo da infância no interior em plena metrópole, resolvi apelar: coloquei alpiste e esqueci o pratinho na janela.

“O” rolinha logo sucumbiu à tentação do novo cardápio: em pouco tempo, passou a me visitar toda manhã. Depois, trouxe o bando, e minha felicidade era quase a de ver o elefante mexer a tromba no zoológico.

Mais uma vez, tentei as frutas e os vultos encarnaram de vez. Surgiu uma maritaca, arisca como pensamento. Um bem-te-vi exibido, com sua casaca preta cobrindo o peito banana-ouro. E sanhaços, chupins, cambacicas, beija-flores e sabiás, nomes que eu descobria num livro de pássaros com a surpresa de quem recorda velhos amigos.

Em um ano, minha janela virou assunto no ponto de ônibus. Eu podia ver as pessoas apontando para meu andar quando, de manhã, ainda sonolenta, abastecia todos os pratinhos, bebedouros e bandejinhas. Mudei para o prédio vizinho e ganhei uma varanda. Os bicudos rapidamente atualizaram o plano de vôo. Cheguei a fotografar 29 maritacas se refestelando com sementes de girassol — do graúdo, me ensinaram elas, que é mais saboroso.

Uma vez por mês, ia ao Ceagesp e comprava 40 quilos de girassol, 20 quilos de painço, 4 cachos de banana nanica e 4 mamões formosas, os maiores possíveis. Me sentia a dona de um estranho restaurante vegetariano.

Meus dias se pareciam cada vez mais com os de meu avô, dono de um rancho em Piracicaba (SP), quando ela finalmente apareceu. Fui para a varanda e encontrei as vasilhas reviradas, as frutas esmagadas e a grade numa imundice. Só os grãos tinham acabado. Todos. Não havia um painço de testemunha. Olhei para a vasilha de água: empoleirada na borda, a menos de um metro de mim, uma pomba cinza me observava, a cabeça dando aquelas inclinadas rápidas e discretas que só os pássaros sabem dar. Fiz um gesto amplo com o braço para que ela fosse embora. Ela voou num meio círculo raso e pousou na grade, meio metro adiante.

Não consegui manter a intrusa longe e, na velocidade das notícias ruins, logo meu marido soube da pomba. E a vizinha de baixo. E a síndica. Antes que o assunto virasse pauta da reunião de condomínio, suspendi todas as vasilhas e deixei o passaredo na secura. Nem água eles tinham. Quase morri de dó vendo as jovens maritacas, o pescoço ainda desplumado, caminhando ansiosas pela grade, como que procurando uma passagem secreta para a mesa farta.

Passaram-se meses nisso, com as pombas – elas agora eram três – obstinadamente me visitando todo santo dia. A clientela que ainda vinha precisava se contentar com as flores de russélia e as jabuticabas e pitangas que, mal maduravam, já enchiam o bico da passarada. Até que, enfim, as pombas desistiram do meu restaurante.

Hoje, nenhum tipo de grão vai para os pratinhos, reabastecidos toda manhã com mamão, banana e, eventualmente, abacate. Os chupins desapareceram me deixando como pagamento uma linda pena negra, que guardei em uma caixinha. Com a suspensão da oferta de sementes de girassol, as maritacas rarearam e só umas cinco vêm comer frutas. Mas sabiás, beija-flores, sanhaços, bem-te-vis e cambacicas continuam fregueses.

Eu já consigo reconhecer seus filhotes adolescentes, tremelicando de ansiedade e fome enquanto os pais ainda lhes levam alimento ao bico, uma cena rara que, hoje sei, é mais que o elefante e sua tromba, é a girafa, o leão, a savana inteira.

Nos dias nublados, “o” rolinha aparece, fuça as vasilhas e bebe água. Pisoteia as frutas com desdém. Me lança um olhar maroto, na esperança de que eu tenha pena. Eu, claro, fico de bico calado.

© Carol Costa/Minhas Plantas

Curso Gratuito de Orquídeas - Resumos

Nossa jardineira Carol Costa criou um curso gratuito de orquídeas, com transmissões diárias no Stories do Instagram do Minhas Plantas. O curso começou no dia 30/04 e vai até o dia 05/05. Corre lá no perfil da louca das plantas no Instagram (clica aqui) pra assistir a última aula. Ah, … (+)
Leia mais
© Carol Costa/Minhas Plantas

Substrato

Substrato é o termo técnico pra nomear aquilo no que uma planta é plantada. Não é a mesma coisa que “terra” (um conjunto de características físicas, químicas e biológicas a que se dá o termo técnico de “solo”), mas você pode se referir a ele como a “terrinha” na qual … (+)
Leia mais
© Alexandre Pavan/Minhas Plantas

110 atividades de jardinagem

Ficar preso em casa, reclusão, quarentena, confinamento, não importa como é chamada essa temporada. Para evitar a propagação do Covid-19, muitas pessoas ficarão em casa o maior tempo possível. Adultos trabalharão no modo home office, crianças não irão às escolas e idosos permanecerão em seus lares. Mas, como diz nossa jardineira … (+)
Leia mais
© Alexandre Pavan/Minhas Plantas

Palhinhas protetoras

Quando pensamos em cultivar plantas, imaginamos que basta um pouco de terra ou substrato e, de vez em quando, adubo e água. Essa regra parece que é suficiente, seja para jardim, canteiro de horta ou apenas um vaso dentro de casa. Mas, entre o solo e as verdinhas, precisa ser … (+)
Leia mais
© Carol Costa/Minhas Plantas

Jardim vertical

Com os espaços cada vez menores em casas e apartamentos, a jardinagem precisou se adaptar e… escalar paredes! Jardins verticais, painéis verdes, quadros vivos, os nomes variam, mas a técnica é a mesma: trabalhar vasos presos na vertical, bem pertinhos uns dos outros, com ou sem irrigação automatizada, liberando espaço … (+)
Leia mais
© Sergio Oyama Jr./Orquídeas no Apê

5 loucuras que você ainda fará pelas plantas

Resolvi dar a minha cara a tapa e contar para vocês algumas das manias que fui desenvolvendo ao longo desses anos de convívio com as orquídeas. São dezenas, mas vou me ater a cinco. Não sei se já se configuram TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo), mas tento tomar cuidado para a coisa … (+)
Leia mais
© Juliana Valentini/De Verde Casa

Os fatos por trás da lenda da coroa de louros

Um condimento muito comum na cozinha brasileira mas que quase nunca se vê plantado em hortas - principalmente as em vasos - é o louro (Laurus nobilis). Na verdade, é difícil encontrar um pé de louro por aí, mesmo nas ruas ou em quintais de casas antigas. Estranho, já que … (+)
Leia mais
© Juliana Valentini/De Verde Casa

Ecoloja doida venderia joaninhas por kg

Vivo pensando em abrir uma loja ecológica. Seria como aquelas farmácias antigas, com um grande balcão de madeira e prateleiras de vidro. Entra uma madame, aflita. Os pulgões estão acabando com o jasmim. Não há motivo para preocupação: vendo joaninha por peso. Custa R$ 5 o quilo, mas você vai … (+)
Leia mais
© Sergio Oyama Jr./Orquídeas no Apê

Como NÃO fotografar suas orquídeas

Quando comecei a tirar fotos de orquídeas, meus conhecimentos sobre fotografia eram parcos. Na verdade, ainda são, mas empenho-me em aprender, sempre. Uma das recomendações que li foi a de nunca fotografar sob luz direta, seja ela do sol, flash ou lâmpadas. O ideal é que a luz seja filtrada … (+)
Leia mais
© Juliana Valentini/De Verde Casa

Couve rendada vai bem até em vaso

Hoje o dia está corrido e para o almoço, pronto na geladeira, eu só tinha arroz e feijão. Sem problemas, adoro e como todos os dias com gosto, mas faltavam coisinhas pra dar uma incrementada. Nessa hora, ter uma horta em casa faz toda a diferença. Desde o começo das … (+)
Leia mais
© Carol Costa/Minhas Plantas

Acabe com carunchos sem acabar com suas plantas

Foi num pacote de macarrão que apareceu o primeiro caruncho aqui em casa. Como eu cozinho superpouco, quando quis fazer sopa, a embalagem estava tomada por esses fiadapííí desses besourinhos. Em poucas semanas, as pestes tinham feito túneis dentro do vidro de fubá, furado o saco plástico do arroz e … (+)
Leia mais
© Reprodução

Orquidófila alerta para 3 "burradas" a se evitar

A entrevistada de hoje já enfrentou a fúria de pestes e furacões sobre seu orquidário. Ficou triste, abalada, mas sempre se reergueu. Começou tudo de novo e voltou mais forte e renovada. Conhecida no meio orquidófilo como Dê, Edzilda Kawasaky é famosa por suas orquídeas premiadas, de beleza e qualidade … (+)
Leia mais
© Juliana Valentini/De Verde Casa

A praga que rende batatinhas e boa salada

A primeira planta que conheci na primeira vez que fui na casa da Neide foi a última que eu poderia imaginar que seria comestível. No dia anterior à minha ida lá tinha passado horas arrancando (e xingando) a maledetinha, que subia por grades e plantas em todos os lados, aqui … (+)
Leia mais
© Sergio Oyama Jr./Orquídeas no Apê

Orquídeas: 3 teorias que não valem na prática

As entrevistas aqui publicadas, recentemente, fizeram-me pensar sobre como eu aplico, no dia-a-dia, todo este valioso conhecimento passado pelos especialistas da orquidofilia. Confesso que cheguei a uma conclusão não muito animadora. Resolvi fazer uma pequena lista das situações nas quais a prática não corresponde à teoria. Teoria: É aconselhável manter … (+)
Leia mais
© Juliana Valentini/De Verde Casa

Mato na horta vira barreira contra pulgão

Se você ainda não sabe que cara tem um pulgão e os estragos que ele pode causar, cultive qualquer uma das hortaliças da família Brassicaceae (antigamente chamada de Cruciferae) e em alguns dias saberá do que se trata. Pulgões são apaixonados por couve, couve-flor, brócolis, repolho, e em alguns dias … (+)
Leia mais
© Carol Costa/Minhas Plantas

Das raízes aos frutos, como nascem as florestas

Seu Flores nasceu árvore, raízes grossas fincadas na cozinha de terra batida. Cresceu rápido, espreguiçando seus galhos pela sala, atravessando portas, escancarando janelas. Gerou quatro rebentos, uns mais lenhosos, outros mais herbáceos. Em pouco tempo já não cabia na pequena Holambra. Viajou de carona, passou fome, frio, foi atacado por … (+)
Leia mais
© Sergio Oyama Jr./Orquídeas no Apê

Orquídea de folha preta tem flor que parece pipoca

Esta pequena obra de arte viva, conhecida como black jewel orchid, é uma orquídea terrestre, originária da Malásia, Indonésia e Burma. A alusão a uma joia negra deve-se ao aspecto incomum da sua folhagem, de coloração marrom aveludada com veios vermelhos/dourados. Sempre gostei desta orquídea, Ludisia discolor, mas nunca havia … (+)
Leia mais
Mais